Em 1999 o filme “O Sexto Sentido” lotou os cinemas. Muitos acharam incrível o filme sobre um garotinho que tinha o dom de ver e de se comunicar com pessoas mortas, o seu sexto sentido. A frase do filme era “Eu vejo pessoas mortas, elas estão em toda parte”. Esse “sexto sentido” era um fardo pesado para este garoto.
Na mesma época eu tive o privilégio de entrar em um programa de Kaizen organizado pela Divisão de Desenvolvimento de Operações Gerenciais da Toyota América do Norte. Eu tinha experiência em melhorias de processos, mas nada havia me preparado para o que iria acontecer…
No primeiro dia nas instalações de um fornecedor, meu Sensei me levou a uma célula que fabricava dobradiças para assentos automotivos. Com poucas palavras o Sensei disse: “Darril san, esta é a sua célula de trabalho, por favor encontre 100 problemas, eu voltarei em duas horas.” Então eu observei o time de trabalho e as máquinas de fora da célula, fiquei rondando a célula como um cachorrinho tímido por duas horas procurando por tais problemas. Ao final do prazo, meu Sensei retornou e viu que eu tinha exatos dois problemas na minha lista. Eu estava 98 problemas abaixo da meta!
Ele olhou para mim, então levantou as mãos até a cabeça e as pousou sobre seu rosto. Ele deve ter pensado “Ó meu Deus, que tipo de idiota tenho aqui?” Foi tão péssimo que um item que eu não tinha em minha lista era um martelo distintamente pendurado ao lado da máquina para fazer com que as peças se encaixassem na máquina, isto deveria ser óbvio para qualquer um! Depois que ele se recompôs, me perguntou: “me diga o que você vê”. Então comecei a descrever o que o time fazia mas eu não via nenhum problema. Ele começou a me ensinar então a maneira de se enxergar o Muri, Mura e Muda (esforço desnecessário, desbalanceamento e desperdício). Ele me pediu para olhar o processo novamente atentando para o Muri (esforço desnecessário) do ponto de vista dos operadores. O que poderia ser considerado um excesso de esforço? Então vi o levantar, balançar, andar e alcançar. Ele me encorajou a aprender o processo realizando-o por mim mesmo, deixando os operadores me ensinarem como eles fazem para eu poder sentir, e não apenas observar. Meus olhos começavam a abrir. Ele me pediu para olhar com o olhar do Mura (desbalanceamento) e eu então descobri que havia vezes de alta atividade e vezes de baixa atividade. Ele me ensinou cada um dos 7 desperdícios e pediu para eu encontrar exemplos de cada um deles. A medida que ele me ensinava e explicava eu podia enxergar vários exemplos e minha lista passou de 100 problemas. A medida que eu realizava o processo a minha lista ia aumentando.
Depois de alguma reflexão eu descobri que existiram 2 grandes barreiras para enxergar desperdícios. Uma, eu criava desculpas para os desperdícios que encontrava dizendo para mim mesmo: “deve haver uma razão que justifique o time de fazer assim”, a cada vez que eu encontrava algo que me lembrava pudesse ser um problema. Mesmo que haja uma razão para se fazer desta forma, ainda é desperdício. Liste tudo, então olhe os padrões, priorize e então ataque os problemas mais importantes.
A segunda barreira era simplesmente o fato de eu não ter sido treinado para enxergar os processos do ponto de vista do desperdício. Treinamentos em sala de aula são bons mas a oportunidade de ir até o genba com um Sensei experiente não tem preço. É como viver com a visão prejudicada e então ter uns óculos.
Talvez para enxergar pessoas mortas, seja mesmo necessário um sexto sentido, como o garoto do filme. Um talento muito raro, sem dúvida! A boa notícia para nós é que podemos aprender a usar os cinco sentidos que temos para enxergar desperdícios em nosso ambiente de trabalho. Requer paciência, prática e acompanhamento de um sensei experiente para desenvolver esta habilidade. Uma vez que a tenha desenvolvido, não fique surpreso se você começar a dizer a si próprio: “eu vejo desperdício, ele está em toda parte”.
Darril Wilburn
Enquanto estava na Toyota, Darril estudou o Sistema Toyota de Produção como um estudante de OMDD, grupo interno da Toyota. Ele também desenvolveu e implementou o Toyota Way 2001 na maior fábrica da Toyota na América do Norte, e trabalhou com o Instituto Toyota no Japão, para implementar a Prática de Negócios da Toyota (TBP), liderando o piloto global deste programa, bem como as sessões executivas sênior norte-americanas.
No Honsha, já teve oportunidade de assessorar mais de 100 empresas em países como EUA, Brasil, Indonésia, Alemanha, República Tcheca, Polônia, Lituânia entre outros. Darril também é um palestrante ativo, ele realiza apresentações e palestras sobre os princípios Lean em todo o mundo, incluindo:
· Revisão dos negócios de Harvard – América Latina, série de palestras no Chile, Equador e México
· Conferência de Talentos de Abu Dhabi
· Seminário de Lean do Governo do Estado de Washington
· Conferência de Lean para o Primeiro-ministro Lituano e demais membros do Governo
· ISM University of Management and Economics, Vilnius, Lituânia
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